Apoio comportamental positivo


Não sei ao certo como começar este blog. Eu o criei com a intenção de divulgar o meu trabalho, compartilhar as minhas experiências, postar ferramentas interessantes aos meus alunos e a todos os leitores. Mas eu também gosto de escrever sobre as situações que acontecem nas aulas, sobre o que dá certo e o que dá errado, sobre o que fazer e o que não fazer. É provável que você encontre aqui de tudo um pouco. Enquanto eu organizo as futuras postagens, deixo aqui uma de minhas memórias. Transparente como sou, escrevo sem hipocrisia e isso deve arrancar de você algumas risadas, viradas de olho e espero que, por fim, algum tipo de reflexão.

Em algum momento de 2018...

Ele tinha uns dez anos. Meu Deus que moleque terrível! A turma toda participando da aula, gostando bastante das atividades e ele lá, subindo na grade da janela, nadando no chão como se fosse um grande lago, piando como uma ave e eu me descabelando, tentando de todas as formas o convencer a voltar para a sua carteira, sem sucesso.

Não sei o que você faria, mas quando percebi que não tinha jeito, apenas continuei com a aula e também com as aulas seguintes normalmente, apenas ignorando tal comportamento. Mesmo muito irritada, eu não gritei com ele nem uma vez. Falaria com os pais em breve sobre isso. Eu não gosto de inglês, eu odeio inglês, ele dizia. Minha mãe me obrigou a vir e eu não quero, queria estar em casa jogando videogame.

Fiquei bem chateada e com vontade de esfregar a cara dele no asfalto. Respirei fundo e comecei a pensar quais eram as minhas opções. Antes de levar o problema para os pais, eu tive a ideia de conversar com ele depois de uma das aulas.

Ele me contou que ficava sozinho o dia todo, os pais trabalhavam, não tinham tempo para ele nunca e quando estavam prestes a chegar em casa à noite, ele já começava a tremer de medo porque todos os dias havia alguma reclamação da escola. Tudo o que ele recebia dos pais eram broncas. Concluí, então, que ele era daquele jeito porque precisava de atenção.

Ofereci meu apoio. Eu disse, olha, eu posso ajudar você. Já que você tem que vir pra cá, porque não começa a tentar gostar? Nós fazemos brincadeiras tão legais, eu queria que você participasse. Não seria legal se seus pais chegassem em casa e ao invés de te darem bronca te elogiassem? Ele concordou.

Estávamos à mesa do hall. Ele levantou da cadeira, sentou no meu colo e me abraçou. Senti a solidão daquela criança. A partir de então, percebi uma mudança muito significativa. Todas as vezes, depois disso, ele chegava e me abraçava. Começou a participar das aulas, ainda que subindo na janela, às vezes.  De repente, no meio da alguma atividade, ele vinha me abraçar, duas, três vezes num mesmo dia. Fez todas as lições atrasadas, foi se desenvolvendo, aprendendo e no dia da reunião de pais, eu não tinha nada de ruim para falar dele, apenas elogios.

Os olhos dele brilhavam enquanto eu contava sobre todas as suas qualidades, como era inteligente e carinhoso.

Fiquei feliz por ele. Na semana seguinte da reunião ele chegou na escola todo contente, contando que havia ganhado um vídeo game novo por minha causa.

Expliquei que não tinha sido por minha causa e sim por causa dele mesmo, mas enfatizei que é preciso fazer o que é certo sem esperar ganhar prêmios por isso.

Eu sei, teacher. Ele disse. E é muito melhor receber elogios do que broncas, você tinha razão.

Minha semente estava plantada ali. Eu senti que a partir daquele momento, ele tentaria fazer sempre o melhor que pudesse, não apenas no curso de inglês, mas na vida.















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